
São três os maiores responsáveis pela derrubada de árvores na Amazônia: a pecuária extensiva, a monocultura de soja e o extrativismo ilegal de madeira. Essas três atividades econômicas têm como objetivo abastecer os mercados interno e externo com carne vermelha, ração para aves e porcos, óleo de cozinha e matéria-prima para fabricação de uma extensa gama de produtos que usam a madeira. Na ponta dessa cadeia produtiva está o consumidor, o único que tem poder para mudar o panorama.
O poder de consumidor está na escolha. Mudar hábitos de consumo é um desafio grande, mas que pode ser vencido se houver a sensibilização sobre a urgência da questão. Ao comer menos carne vermelha, além de fazer bem à saúde, estaremos diminuindo a demanda por pastagens. Optar por alimentos orgânicos (inclusive carne de vaca e de frango), que são produzidos sob normas que preservam o meio ambiente, e comprar apenas produtos feitos de madeira certificada são duas atitudes que certamente contribuem muito para a preservação da Amazônia e outras florestas.

Como não há ainda no Brasil uma regulamentação sobre os alimentos orgânicos, diversas certificadoras usam seus próprios critérios para dar o seu selo. As regras mais comuns para obter o selo de certificação incluem: a desintoxicação do solo (fase de conversão, que dura, aproximadamente, dois anos), a não-utilização de adubos químicos e agrotóxicos, a recomposição de matas ciliares, a preservação de espécies nativas e mananciais, o respeito às normas sociais baseadas nos acordos internacionais do trabalho e a não utilização de sementes geneticamente modificadas.
A certificação florestal, por sua vez, deixou de ser uma realidade distante para se tornar uma realidade para o consumidor brasileiro. Há no mercado 247 linhas de produtos com o selo FSC do Forest Stewardship Council (ou Conselho de Manejo Florestal, em português).São produtos como material de construção, móveis, objetos de decoração, utensílios domésticos, brindes, cosméticos, material escolar e de escritório, além de livros e até alimentos, com a garantia de origem ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável.
Se o consumidor final pode exercer sua responsabilidade ao adquirir produtos e serviços, o mesmo vale para os governos e as empresas. Um bom exemplo disso foi a medida do governo estadual de São Paulo de pôr em prática um programa de compras responsáveis para a madeira nativa utilizada em obras e serviços públicos. O termo estabelece que apenas madeira com origem em planos de manejo florestal será aceita dos fornecedores do governo, excluindo-se madeira de extração predatória e desmatamentos. São Paulo é o primeiro estado da federação a participar do programa "Cidade Amiga da Amazônia", do Greenpeace, que já está em andamento em 28 municípios brasileiros.

No segmento empresarial, a Cargill, uma das maiores empresas do setor da soja, está pressionando produtores da região amazônica a seguirem a legislação ambiental brasileira, que determina que sejam preservados 80% da área de cada propriedade privada na Amazônia. A empresa recentemente assinou compromisso de só comprar soja legalizada.
A situação em números
- Amazônia pode diminuir de 5,3 milhões para 3,2 milhões de quilômetros quadrados em nove países, até 2050, segundo estudo de Britaldo Soares-Filho e Daniel Nepstad. Isso significariam 17 bilhões de toneladas a mais de dióxido de carbono na atmosfera. O Protocolo de Kyoto, caso fosse seguido à risca, evita a emissão de 2 bilhões de toneladas.
- A pecuária extensiva respondeu por 75% da floresta desmatada na região amazônica, principalmente no sul do Pará e norte do Mato Grosso. (Ipam - Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia)
- De 1990 a 2002, cerca de 22 milhões de hectares de floresta foram derrubados. A área equivale aos territórios somados de Bélgica, Dinamarca, Holanda e Portugal. Mais de 70% de tudo o que a floresta perde a cada ano é arrancado de suas bordas.
- Metade da madeira vinda da Amazônia é retirada de maneira ilegal. O principal estímulo à derrubada das árvores é a alta rentabilidade do negócio. A exploração madeireira baseada em técnicas de manejo que conservam a floresta tem um retorno de 71%. Já a derrubada ilegal rende 122%. Além de não pagar impostos nem garantir direitos trabalhistas mínimos a seus empregados, os madeireiros ilegais retiram muito mais madeira do que permite um plano de manejo. (Banco Mundial e Imazon - Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia)
- 35% das florestas intactas do mundo estão na América Latina, grande parte delas na Amazônia. Menos de 10% da superfície terrestre no mundo permanece com cobertura original de florestas, revelando a necessidade do estabelecimento urgente de uma rede global de áreas protegidas.
- Existe, em média, um funcionário responsável por 170 mil hectares nas Unidades de Conservação federais. Já nas áreas estaduais, o caso é mais grave, com um funcionário para cada 279 mil hectares. Isto é, se depender da fiscalização, as matas vão cair.
- Cerca de 15% de toda a madeira extraída na Amazônia em 2004 teve como destino o mercado paulista. Este volume é três vezes maior do que o total exportado para os Estados Unidos - o principal importador de madeira amazônica - no mesmo período. Estima-se que entre 60% e 80% de toda madeira amazônica tenha origem ilegal.
- 35 mil km2 de floresta foram desmatados entre 2003 e 2005, uma área equivalente a 14% do Estado de São Paulo. Cerca de 70% do desmatamento é ilegal e, destas áreas, são extraídos grandes volumes de madeira utilizada na construção de escolas, prédios públicos, postos de saúde e obras de infra-estrutura.
