Os oceanos desempenham um papel vital no trabalhar da máquina do tempo. Afinal, a atmosfera está realmente em contacto com a água, e não com a terra, em mais de 72 por cento da superfície do globo. A circulação da atmosfera é empurrada pelo calor, mas a quantidade de energia térmica armazenada numa coluna de ar que se estende desde a superfície até à orla do espaço é apenas equivalente à quantidade de energia térmica numa coluna semelhante¹ de água que se estende da superfície do mar até uma profundidade de apenas três metros.
É o oceano, muito mais que a terra, o armazém inicial da energia solar, libertada posteriormente para a base da atmosfera. Os climas temperados são moderados pela influência do mar a oeste, e o clima de toda a Terra é protegido pela acção moderadora do fornecimento de calor oceânico. O sistema de circulação de grandes correntes é fundamental para o estabelecimento do padrão climático existente, pois a movimentação de águas quentes à superfície actua directamente sobre a temperatura atmosférica.
Uma dessas grandes correntes é a chamada Corrente do Golfo, que transporta água quente para norte, desde o golfo do México até à Escandinávia. Toda a Europa Ocidental se encontra sob a sua influência. Como qualquer corrente oceânica, a Corrente do Golfo é gerada por padrões de vento à superfície, e diferenças na densidade da água.
A água superficial, quente e menos salgada, por isso menos densa, parte do golfo do México em direcção a nordeste, e à medida que a latitude vai aumentando a libertação de calor para a atmosfera faz com que diminua de temperatura. No ártico, os ventos frios e o contacto com os gelos arrefece-a ainda mais, adensando-a, até que a própria corrente afunda. A água, agora mais fria, inverte o seu sentido de deslocação, e acaba por se dirigir para sudoeste, a grandes profundidades, indo repôr a massa de água quente em deslocação para nordeste.
Imaginemos este mecanismo como uma enorme corrente de transmissão, movendo-se a uma velocidade de cerca de 4 km por hora e deslocando 74 milhões de metros cúbicos de água por segundo... A Corrente do Golfo faz com que por exemplo a Grã-Bretanha tenha uma temperatura média superior em cerca de 9 graus em relação à Terra Nova, à mesma latitude. A Noruega sem corrente do golfo seria tão inóspita quanto a Groenlândia.
O aquecimento global pode provocar um derretimento assustador dos gelos do Ártico, levando a que uma maior quantidade de água doce se junte à água do mar. A diminuição da salinidade no Mar do Norte pode ter um efeito devastador, na medida em que uma menor salinidade significa menor densidade. A Corrente do Golfo deixa de poder afundar tão a norte e passará a fazê-lo em latitudes mais meridionais, tornando-a instável e eventualmente levando-a a parar por completo. Isto traria concerteza consequências drásticas: em poucos anos, até talvez em menos de uma década, a temperatura média da Europa Ocidental desceria 5ºC, o que significaria a chegada abrupta de uma brutal glaciação. Poderíamos encontrar o clima de Oslo em Lisboa.
CALAMIDADES!!!
Vivemos num mundo de rápidas mudanças, ao qual a tecnologia trouxe o conforto e a possibilidade de uma vida mais longa, inconcebíveis no tempo dos nossos antepassados. Mas este mundo vive sob a ameaça de eventuais catástrofes, como um desastre nuclear, uma nova epidemia virulenta, ou uma alteração radical do clima. A ciência permitiu ao homem compreender muitas das forças destruidoras que nos podem arrasar, mas também acrescentou muitos perigos à nossa existência. Apesar das suas incertezas e problemas, este é um planeta em que podemos viver, o ponto mais aprazível que conhecemos do Universo para a nossa espécie.
No intuito de o manter tolerável e de mitigar futuras calamidades, os governos devem aprender a cooperar entre si na condução das instituições sociais e na utilização harmoniosa dos recursos naturais. A ciência é o principal instrumento de que o Homem dispõe para criar um equilíbrio praticável entre as necessidades da civilização e o carácter volúvel da Natureza. Contudo, ciência e tecnologia são, por si próprios, projectos experimentais. Devem merecer toda a atenção e todo o cuidado, para que não se virem contra a humanidade.
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